Papel passado
Papel passado
Que a gente acaba fazendo um teatrinho
Com a espelho gente conversa
E sem plateia a gente se sente sozinho
Fica fácil decorar o texto
Pois o monólogo é puro silêncio
Para cada erro um novo pretexto
Para cada lágrima um novo lenço
A vida segue mesmo sem a gente
A gente se vê seguindo os próprios sapatos
E com os óculos embaçados na lente
A gente se ve tropeçando no palco
O coração se despedaça no verso
Os estilhaços cortam quem não se deve
No fundo sabemos que isso não é certo
Mas só percebemos quando a cortina desce
E assim se encerra nosso papel
Sem aplausos, vaias ou autógrafo
Sem beijo de noiva, final feliz ou véu
E sem a continuidade de novo ato
Wilson Borges
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