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Mostrando postagens de novembro, 2019

Morena poesia

Morena poesia Ler sua poesia Me deixa com vontade de te despir Tirar suas roupas, suas máscaras E a armadura em que se esconde Para aproveitar seu calor E escrever com paixão Rabiscar  no seu corpo todo A minha versão final Até que sua poesia Se perca na minha                       Wilson Borges

A deusa da minha lua

A deusa da minha lua Esqueci minhas mãos Nos cachos dos seus cabelos E não estou com nenhuma pressa De traze-las de volta com zelo Acho que funciona mais ou menos igual A quando te aperto em meu corpo na rua E você me empurra sem me afastar Com aquela cara inocente de culpa Esse nosso amor custa caro Mas até que é barato Quase de graça Esse nosso amor envolve alma Mas é sempre safado Quase desgraça                         Wilson Borges

Matando o tempo

Matando o tempo No fundo no fundo Todo mundo quer matar alguém O médico quer matar com o bisturi O barbeiro quer matar com a navalha O pastor quer matar com a bíblia O tratorista quer matar com o trator O apaixonado quer matar de amor O fanático quer matar de ardor O estudante quer matar o professor O professor quer matar com o apagador A manicure quer matar com o alicate A amante quer matar com as unhas O engenheiro quer matar, é concreto O arquiteto quer matar com seu croqui O cantor mata todos no karaokê O folião quer matar de bundalelê O bêbado quer matar incendiando O bombeiro quer matar nos apagando A polícia quer matar, quer matar O bandido quer matar para viver O presidente quer matar as minorias As minorias querem matar o preconceito O cidadão de bem quer matar por prazer No gang bang se mata para comer Eu só quero matar o tempo Antes que ele me mate                         Wilson Bor...

Oitenta anos oitenta

Oitenta anos oitenta O dia que eu tiver oitenta anos Vou colocar um ponto final em tudo Vou me cansar de tanta enganação E das pessoas que roubam Meu Corote de cada dia Na porta de vossas casas O dia que eu tiver oitenta anos Vou acabar com minha empatia Vou chamar meu amigo que mora no Irã Que trabalha em uma usina nuclear E juntos mudaremos os ares E atropelaremos todo mundo Na Avenida Paulista Com um submarino russo Dos anos oitenta                Wilson Borges

No mundo da lua

No mundo da lua Tem eclipse que demora Que se aguarda por anos e anos E enquanto o tempo passa Seguimos caminhando e cantando Contraditoriamente Parados E prosseguimos Por vários finais de semana Em assembléias acaloradas E mesmo com tanta frieza Não passamos um único dia Calados Perdemos a conta de quantas vezes Por três dias e três noites De boemia burocrata Só debatemos e andamos praticamente De lado Marcamos cedo, chegamos tarde Falamos muito Gritamos muito e sem parar Mas continuamos tristemente Isolados As ruas viraram nosso lar E por isso não temos casa Assim vivemos de sala em sala De bar em bar De par em par Sem que isso mude alguma coisa De fato Viajamos um mundo Que conhecemos pouco Nada para além do sufoco que compartilhamos juntos Nos trens das cidades Quase sempre Lotados E são estes mesmos trens e cidades Que incendiamos juntos Quando o sol nasce E o povo se levanta E viramos uma só Classe Mas fora desses dias É cada um...

Quando as metas se dobram

Quando as metas se dobram Esse poema É só pra fazer número Para bater meta E depois dobrar Até que seu sentido Não tenha Mais-valor E seja perfeitamente Belo, completo e confusamente Nulo

Ontologia

Ontologia Às vezes minha poesia É manuscrita Às vezes é toda fria No computador Na verdade tudo depende Se o que escrevo Vem da alegria Viva Ou se é mais um fruto De alergia que coça E reanima minha crônica Dor                         Wilson Borges

Antropofagia canibal

Antropofagia canibal Eu quero te comer Mas não como fazem os canibais Com seus grunhidos e suores Mordidas, rasgos e cortes Eu quero mesmo é te devorar Como fazem os antropófagos Com seus sentidos e sensores Feromônios, gemidos e odores Quero me perder nas tuas vísceras Mas não como fazem os parasitas Com direito a dores e feridas Vômitos, enjoos e taquicardia Quero mesmo é viver em suas varizes Porque em cada nova estria Posso te dedicar Mais uma poesia                         Wilson Borges