Altas horas da madrugada E eu aqui pensando Tenho nas mãos um livro E um livro me tem nas mãos Como terminar de ler E colocar na pilha Dos livros do ano E depois dispensar na estante Para adormecer eternamente? Sei que este livro seguirá comigo Mas não quero me separar dele Decidi destacar entre aqueles Que leio todos os anos De forma obrigatória Para que nunca se encerre Mas ainda assim A leitura dura pouco E o ano dura muito E agora, José? Me pergunto como Drummond O tempo se esvai O ano se encerra É vida que segue As incertezas me rondam Preciso terminar de ler Mas não quero Preciso deixar acontecer Acabar com ele E catar a poesia que entorna no chão De repente Surgem os primeiros raios da manhã E pronto Mais um livro que se vai Que brilhará no meu céu E ainda vai virar Uma constelação Não quero mais pensar nisso Todo livro que amo Seguirá comigo Onde eu estiver Onde a vida me levar
Vida à deriva As pedrinhas brancas De paz, harmonia e gratidão E as miçangas azuis De serenidade e zelo Chacoalham com leveza No seu tornozelo E me condenam a viver Agora é minha tornozeleira eletrônica Que me aperta no coração E quando saio do seu raio de luz Dispara um alarme de devaneio E na ausência da sua incerteza Me disperso em segredo E me contento em viver Assim estou à deriva no mar profundo Dos teus olhos E ali me tomei pelo gosto de naufragar E me afogar nas tuas mágoas calmas Pois no palco da vida em que ecoa seu pranto É que vive meu coração E vou nadando em busca de uma tempestade Que enfim me traga alguma paz Que eu fique pra sempre sem resgate Até a cortina baixar Wilson Borges
Interlúdio em dor maior O nosso Romance que se perdeu Começou com um Prefácio Mas o Índice era apenas imaginário Em nossa Novela, eternamente bela A Introdução nunca passou De um Prelúdio do fim Em nosso Conto, apenas um ponto: As Considerações Finais Chegaram cedo e tarde demais Em nossa Canção Na busca de uma sílaba tônica Acabamos em uma síncope morna Em nosso Drama Histórico A conjuntura de lama Nos sujou de cândida E em nossa Poesia Nesse eterno Teatro de Vanguarda O Posfácio veio rápido demais Mas difícil mesmo de engolir É essa aguardente de lágrimas Que alaga Mas difícil mesmo de suportar É essa dor crônica que me aperta Sem remédio Mas difícil mesmo de viver É com essa vontade de ir embora Sem partir Wilson Borges
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