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Mostrando postagens de outubro, 2021

Humanas, demasiadamente humanas

 Humanas, demasiadamente humanas Dizem que Marx atacou o Capital E sobre ele jogou uma pá de Karl Que Bordieu perambulou por aí Distribuindo bordoadas Dizem que Sigmund percebeu Que viver a vida é Freud E que Nietzsche só falou Para seu próprio nicho Dizem que Vladimir dirigiu uma revolução Por pura leniência E que Leon ligou pra Josef Apenas pra passar um Trotsky Dizem que Marilena sozinha Foi do Oiapoque ao Chauí E que Rosa era a mais bela e vermelha Da Holanda ao Luxemburgo Dizem que Cora decorou Nossa vida com Coralinas E que Carolina foi Maria Mas viveu a vida de Jesus Dizem que Brecht, com um martelo Conseguiu abrir uma brecha E que Fernando, além de Antônio  Era Nogueira e não só uma Pessoa Dizem que sou um Wilson sem graça Mas que ando mesmo é Hilário por aí E que posso até gerar um Garcia Borges De tanto curtir essa vida Lorca

Dominguei

Dominguei Acordei Tomei café  Peguei meus cachorros  E dei no pé Voltei Traguei meu mé Tomei um soro E fui na fé Anoiteci E motivado no fel Peguei no sono Da rotina cruel

Coração Latifúndio

Coração latifúndio   Um coração por muito tempo desocupado Sempre vira latifúndio  Nao tem cerca, portão ou laudo E se mantém improdutivo  Um coração isolado Nem bomba sangue pro cérebro  Atira pra todo lado E não acerta o alvo certo Um coração desamparado Perde calor e perde energia Perde brilho e vive o fardo Do prazer sem ocitocina                   Wilson Borges  

Papel passado

Papel passado A tristeza nos prega cada peça Que a gente acaba fazendo um teatrinho Com a espelho gente conversa  E sem plateia a gente se sente sozinho Fica fácil decorar o texto  Pois o monólogo é puro silêncio  Para cada erro um novo pretexto  Para cada lágrima um novo lenço  A vida segue mesmo sem a gente  A gente se vê seguindo os próprios sapatos  E com os óculos embaçados na lente  A gente se ve tropeçando no palco O coração se despedaça no verso Os estilhaços cortam quem não se deve No fundo sabemos que isso não é certo Mas só percebemos quando a cortina desce E assim se encerra nosso papel Sem aplausos, vaias ou autógrafo Sem beijo de noiva, final feliz ou véu  E sem a continuidade de novo ato                   Wilson Borges