queria ser poeta

  Abril se abriu e fechei Abril Se abriu E ariano que é Me mandou escrever Escrevi Pois capricorniano teimoso que sou Não podia deixar passar E fechei                                     Wilson Borges

Da janela pra lua No fim da noite fria A lua brilhante e cheia Pela janela da sala Me espreita Na noite longa e cheia  De longe a lua fria Comigo se estreita E calor se cria Uivo pra ela E enquanto amanhece A lua amarela De mim se despede                         Wilson Borges                     

Segredo de Estado Me dê um beijo E também um filho Um pão de queijo E um biscoito de polvilho Me dê um cheiro E tambem um gemido Fogo de isqueiro E uma taça de vinho  Me reze um terço E vamos pro quarto Criança no berço Comida no prato Me conte um desejo E um segredo de Estado Whisky de centeio Picante pecado 

Aguardente de transpiração   Seu cheiro está na minha roupa E nossa roupa está no chão  Enquanto você está dormindo Velo teu sono com samba-canção Esse nosso amor ordinário Atravessa o coração  Para nós foi como contágio  Mas não tem cura e é salvação  Essa sede que não passa Boca seca com salivação  Teu suor queima como cachaça Aguardente de transpiração  E eu bebo o que você pinga

Haicai XLV Outono chegou  As flores todas se vão Com meu coração  Haicai XLVI Haicai é assim Um cinco sete cinco Que nunca tem fim

Haicai XLIII O epigrama Da vida cabe Num epitáfio  Haicai XLIV Obra de arte Chorar, sorrir, morrer Tudo faz parte Haicai XLV Pinga e Brenfa Assim que se encara  Uma sofrência

Haicai XL Cidade cinza Grafite colorido Pixo poesia Haicai XLI Haicai de luta Versos econômicos  Conquista da lua Haicai XLII Biografia  A leitura da vida  É sua escrita

Cumplicidade e desejo O amor não tem morada Está em todos os lugares Qualquer canto é sua casa Carros, motéis e bares  O amor não cobra nenhum valor Nem mesmo uma passagem Apenas um pouco de calor Pois a humanidade é uma viagem O amor só existe se a gente quiser Sem frescuras ou rodeios Está onde a gente estiver Com cumplicidade, afeto e desejo                       Wilson Borges