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Queda livre

Queda livre Nada vicia mais que o sofrimento  Nada sacia mais do que a tristeza  Que em momentos de frio ao relento Não decepcio nam e marcam presença  Nada chega mais sem aviso Que tristeza e sofrimento Pode até ser o dia mais lindo Daqueles com céu azul de brigadeiro Em um dia de solidão de retaguarda Você nunca vai saber a diferença  Entre o calor da cama em uma manhã ensolarada E do frio do piso do banheiro em que vomita Depois de algum tempo, em segredo  Vai desejar mais do que por gosto Que venha o desconforto, que te sirva absinto E te machuque de novo E em tardes fugidias como essa Em que vivi a vida e não um fado Vem a vontade de pedir para que algo me impeça  De admirar a beleza só na queda livre e do estrago                           Wilson Borges  

Ponto de partida

Pronto de partida   Sua ausência é dor  Que me dói  E continua a doer  E continua a doar  Poesia Poesia Que me alivia  Depois retalha Dói tanto e todo dia Que paralisa  E a poesia Que sangra e também coça  Que é tsunami e também poça  Me lacera no outro dia De fossa Esta minha ausência  Dentro de mim  Que te dói e não te doa nada Que te rói e depois cala Se esgota  E essa dor, essa ferida  Essa poesia de agonia  Me fazem lembrar  Que a angústia  É nosso pronto  De partida                 Wilson Borges  

Passos vagos

Passos vagos Caminhando  Em passos vagos Descompassados Seguindo meus sapatos Grãos de vidro São pedaços  De outros Embriagados  Se eu me ralar nesse rio Frio e áspero  Se eu mergulhar  Na superfície do asfalto Saberei dos cristais  De brilho encrustado  Que nunca se vê  Sobre passos sóbrios Eu que bem sei Um cristal vai brilhar Onde estiver Como eu Pois o mundo só me dedicou  Tão somente os seus pés 

Sem receita

Sem receita  Passa o dia e passa o mês  E passa dois e passa três  Mas se amplia e passa quatro  Seria Santa Rita No interior de São Paulo  O tempo não avança e nem recua Não bate e nem desperta Esse meu relógio sem ponteiro E essa volta que não fecha Um coração  Dois corações  Mas se caso fossem três ou quatro Seria Minas Gerais Ou café pequeno mal coado Porém é só minha dor seca Dentro de uma garrafa boiando no oceano  Com pedido de salvação na sarjeta  E de tarja preta sem receita 

Chuva de verão

Chuva de verão    Saí sem guarda-chuva Pois agora a pouco estava sol Mas a Defesa Civil não me defendeu E agora pinga Pinga  E pinga Chove lá fora  Aqui dentro também  E agora estou sem certeza ou cerveja E agora pinga Pinga E pinga Melhor guardar o celular Pois senão posso perder A  poesia que fique pra lá E agora pinga Pinga  E pinga O celular pode pifar E eu também  Poderia chover granizo  Mas só pinga Pinga E pinga Agora eu me pergunto  Onde será que está seu coração? Poderia me dar uma resposta seca Mas só pinga Pinga E pinga                        Wilson Borges  

Interlúdio em dor maior

Interlúdio em dor maior O nosso Romance que se perdeu Começou com um Prefácio  Mas o Índice era apenas imaginário  Em nossa Novela, eternamente bela A Introdução nunca passou De um Prelúdio do fim Em nosso Conto, apenas um ponto: As Considerações Finais Chegaram cedo e tarde demais Em nossa Canção  Na busca de uma sílaba tônica  Acabamos em uma síncope morna Em nosso Drama Histórico A conjuntura de lama  Nos sujou de cândida  E em nossa Poesia Nesse eterno Teatro de Vanguarda  O Posfácio veio rápido demais  Mas difícil mesmo de engolir É essa aguardente de lágrimas  Que alaga Mas difícil mesmo de suportar  É essa dor crônica que me aperta Sem remédio  Mas difícil mesmo de viver É com essa vontade de ir embora Sem partir                              Wilson Borges  

Plano diretor

Plano diretor Metamorfose As formas de uma cidade  Mudam com mais rapidez Do que pode suportar Um pobre coração  Humano             Wilson Borges